A história dos casinos no Brasil é mais antiga do que você pensa: desde a época do Brasil Império, as apostas nos jogos de azar já existiam na ex-colônia portuguesa. Porém, os anos dourados dos casinos foram realmente nos anos 30 e 40.
Além dos jogos de azar, os casinos brasileiros exibiam shows, orquestras e espetáculos, os quais impulsionaram artistas como Carmem Miranda para a fama internacional. E devido às suas atrações, os casinos atraíam uma audiência seleta e sofisticada, que possuía um alto poder aquisitivo.
Entretanto, os casinos pararam de funcionar no Brasil em 1946, deixando muitas pessoas desempregadas, empresários falidos e muitos jogadores de casino órfãos. Em 1917, os casinos também haviam sido proibidos, porém voltaram com toda a força em 1934.
Proibidos de jogar em casinos no Brasil, os jogadores passaram a viajar para destinos como Las Vegas, Argentina, Paraguai e Uruguai para nutrir a paixão pelos jogos de casino – isso quando não buscavam as salas de jogos e os casinos clandestinos brasileiros.
Posteriormente, com a criação dos cruzeiros marítimos, os brasileiros encontraram mais uma opção para apostar. No entanto, a nova tendência do momento são os casinos online: ainda que os casinos online no Brasil sejam um tabu, os brasileiros são os jogadores mais assíduos nos casinos online de toda a América Latina.
Nos parágrafos a seguir, você vai conhecer os antigos casinos do Brasil, que eram sinônimos de glamour, ostentação e de entretenimento, atraindo famosos nacionais e internacionais.
Cassino da Urca
O Hotel Balneário, que foi construído em 1922 para abrigar os visitantes da exposição internacional de 1922, só ganhou prestígio quando se transformou no célebre Cassino da Urca, em 1933. Dos jogos de casino, o que se destacava mais era a roleta. O Cassino da Urca apresentava orquestras e shows com artistas nacionais e internacionais.
Além de Carmem Miranda, outras celebridades que deram as caras no Cassino da Urca foram os brasileiros Grande Otelo, Emilinha Borba e os famosos internacionais Walt Disney, Maurice Chevalier, Virgínia Lane, Josephine Baker e Bing Crosby.
O Cassino da Urca tinha aquelas músicas nostálgicas de antigamente como plano de fundo e salões de jogos à beira-mar, com uma vista privilegiada para a Baía de Guanabara. O casino tinha uma sala VIP para grandes apostadores, que não só tinham chofer para estacionar os seus carros, como também barcos à disposição para transportá-los para o Cassino de Icaraí, em Niterói.
Depois de extinto, o antigo Cassino da Urca deu lugar à emissora de televisão TV Tupi, que encerrou as suas atividades em 1980. E foi só em 2006 que o antigo Cassino da Urca voltou a ser ocupado, desta vez pelo Istituto Europeo di Design, cuja principal filial fica na Itália.
Cassino do Copacabana Palace
O glamoroso hotel Copacabana Palace com arquitetura art decó foi aberto em 1923 e tinha um cassino que funcionava em um enorme salão. O hotel e o cassino do Copacabana Palace foram essenciais para a consolidação da fama internacional do bairro de Copacabana.
O hotel Copacabana Palace serviu inclusive como cenário para o musical de Hollywood “Flying Down to Rio”, de 1933, embora a película tenha sido gravada inteiramente nos Estados Unidos. O sucesso do filme tornou o hotel e o cassino do Copacabana Palace conhecidos mundialmente.
A primeira celebridade internacional a pisar no Cassino do Copacabana Palace foi o gênio Albert Einstein. Outros famosos que passaram pelo casino foram Walt Disney, Orson Welles, Rita Hayworth, Glenn Ford, Frank Sinatra, Edith Piaf e Santos Dumont.
Mesmo depois que o cassino do Copacabana Palace fechou, o hotel continuou recebendo visitas célebres como Janis Joplin, que fez questão de nadar nua na piscina; Jonny Depp, que teria destruído a suíte onde estava hospedado com Kate Moss; Jon Bon Jovi, que exigiu que nenhum funcionário do hotel falasse com ele; Mick Jagger, que exigiu muffins durante a sua estada; e a saudosa Princesa Diana, que preferia nadar com as luzes apagadas para não ser reconhecida.
O Cassino do Copacabana Palace possuía uma infraestrutura superior que a maioria dos casinos europeus da época e recebeu o título de melhor casa de espetáculos da América do Sul. Confortável e elegante, oferecia diversos tipos de jogos, tais como roleta, bacará, blackjack, entre outros.
Foi também no hotel-cassino Copacabana Palace que Walt Disney deu vida ao famoso Zé Carioca, conhecido em inglês como “Joe Carioca”. Reza a lenda que, encantado com o jeito de ser do brasileiro, Walt Disney criou o Zé Carioca como uma homenagem ao cartunista J. Carlos. Outra versão diz que o Zé Carioca foi inspirado no sambista Paulo da Portela.
Junto com Carmen Miranda, o Zé Carioca ajudou a projetar uma imagem positiva do Brasil em todo mundo. E foram graças aos cassinos do Rio de Janeiro que eles se tornaram famosos a nível internacional. Zé Carioca se vestia inclusive como os jogadores de casino da época, e não abria mão de seu charuto, de sua malandragem, da sua caipirinha e do samba. No vídeo a seguir, o Zé Carioca apresenta o Cassino da Urca, o Cassino Atlântico e o Copacabana Palace ao Pato Donald, que aprende a sambar com Carmem Miranda.
Cassino Atlântico
Também no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, o Cassino Atlântico, criado em 1934, ficava na altura do posto 6. O casino seguia o estilo art déco, e seus jogadores tinham a sensação de estar em um transatlântico, tanto pelo luxo, quanto pela proximidade com a orla.
Além de jogos de casino tais como bacará, campista, roleta, blackjack e carteado, o Cassino Atlântico apresentava jantares dançantes e atrações internacionais que atraíam a sociedade sofisticada da época.
O casino também serviu de cenário e tema para o filme “Alô, Alô, Carnaval”, uma comédia musical de Adhemar Gonzaga que contou com a participação de artistas como Francisco Alves, Virginia Lane, Lamartine Babo, Carmem Miranda, entre outros.
Com a proibição dos casinos no Brasil em 1946, o Cassino Atlântico foi obrigado a fechar as suas portas, dando lugar à emissora TV Rio, que hoje também não existe mais. Já na metade da década de 70, o local abrigou o Shopping Cassino Atlântico e o luxuoso Hotel Rio Palace, o qual foi comprado posteriormente pelo grupo Accor, passando a ser o atual Sofitel Rio de Janeiro.
Hotel-Cassino Quitandinha
O Hotel-Cassino Quitandinha foi idealizado para ser construído na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, mas o empresário mineiro Joaquim Rolla, que na época era o proprietário da maior rede de casinos da América Latina, não obteve a aprovação do Exército, portanto decidiu construir o casino na cidade de Petrópolis.
O Hotel-Cassino Quitandinha, no entanto, teve vida curta: criado em 1944, o casino ficou em funcionamento até 1946, quando o presidente Dutra decretou a proibição de casinos no Brasil. Joaquim Rolla tinha a pretensão de transformar o Hotel-Cassino Quitandinha no maior da América Latina – o prédio tinha 50 mil metros quadrados e seis andares.
O Hotel-Cassino Quitandinha era um prédio com arquitetura imponente no estilo normando-francês, típico de cidades de colonização alemã. Já o seu interior seguia um estilo rococó hollywoodiano, com espelhos, lustres de bronze, granito, porcelana chinesa e grandes espaços vazios.
Assim como os outros casinos brasileiros aqui mencionados, o Hotel-Cassino Quitandinha recebia visitas ilustres como Orson Welles, Henry Fonda, Walt Disney, Carmem Miranda, Greta Garbo, Marlene Dietrich, Josephine Baker, Lara Turner, Oscarito, entre outros.
O casino também recebeu políticos como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitchek, Fernando Henrique Cardoso, Henri Truman, dos Estados Unidos, Eva Perón, da Argentina, e até mesmo um rei destronado – Carol II, da Romênia.
Foi também no Hotel-Cassino Quitandinha que aconteceram importantes eventos da época, tais como a assinatura do tratado que determinou a entrada do Brasil na segunda Guerra Mundial e a coroação de Marta Rocha como Miss Brasil em 1954.
Com a proibição dos casinos, o prédio que ocupava o Hotel-Cassino Quitandinha transformou-se em um condomínio de luxo, chamando-se Palácio Quitandinha. Parte do palácio foi comprada pelo SESC, que administra as partes social e histórica do local. As salas de jogos do extinto casino Quitandinha ficam abertas para visitação.
O Palácio Quitandinha é conhecido como o maior e mais legítimo palácio do Brasil. Além disso, ao lado do Cólon, na Argentina, ele recebe também o título de maior palácio da América Latina.
Os casinos do Brasil eram puro luxo, mas...
Os casinos do Brasil eram frequentados pela high society, sendo sinônimo de glamour e ostentação; criaram milhares de empregos; impulsionaram a imagem do Brasil no exterior; aumentaram o turismo nacional; e lançaram artistas no mercado nacional e internacional.
Porém, em 1946, a era dos casinos no Brasil chegou ao fim, deixando milhares de pessoas desempregadas e empresários falidos. Além do Rio de Janeiro, os casinos estavam presentes em outros estados, como São Paulo e Minas Gerais.
Há projetos de lei no senado para a legalização de casinos no Brasil, mas não há nenhuma previsão de quando as leis vão sair do papel. Enquanto isso, os jogadores brasileiros podem jogar nos casinos online em português, uma vez que não há nenhuma lei que proíba jogar jogos de azar em sites hospedados no exterior. Veja uma amostra dos jogos de azar disponíveis nos casinos online aqui.
Dados Curiosos
- O jogo foi banido no Brasil em 1946 a fim de manter a moral e os bons costumes.
- O Brasil teve cerca de 70 casinos.
- Cerca de 50 mil pessoas ficaram desempregadas com o fim dos casinos no Brasil.
- O Zé Carioca foi criado no Cassino do Copacabana Palace.
- Os únicos países sem casinos na América do Sul são Brasil, Bolívia e Guiana.
- A roleta era o jogo mais popular nos antigos casinos do Brasil.
- Carmem Miranda ganhou fama internacional através de suas apresentações no Cassino da Urca.
Eu adorava ter assistido ao vivo a esse último show de Carmen Miranda no Cassino da Urca! E quem diria que um local tão animado, ficaria votado ao abandono durante tantos anos… Fico contente por saber que o edifício está novamente “vivo” ao serviço de uma instituição europeia:)