Não é raro nos surpreender com histórias fantásticas sobre megaempresários que começaram suas carreiras como mascates, camelôs ou engraxates. Bem, o magnata dos casinos do Brasil é apenas mais um deste grupo, pois começou a sua trajetória como um simples tropeiro cujas habilidades empreendedoras foram identificadas desde muito cedo.
O mineiro Joaquim Rolla o foi dono das casas de jogo Cassino da Urca, Cassino de Icaraí, Hotel-Cassino Quitandinha, Cassino da Pampulha, Grande Hotel de Araxá e Cassino da Urca de Poços de Caldas, que estão desativadas desde 1946, época em que o jogo de azar foi proibido no Brasil pelo presidente Gaspar Dutra. Rolla dava sinais de que seria um grande empreendedor desde criança, quando conseguiu convencer turistas alemães a revenderem gasosa (bebida alcoólica de abacaxi) na Alemanha.
O humilde Joaquim Rolla, nascido em 1899, terminou apenas o primário e trabalhou duro em várias profissões. Ele foi vaqueiro, açougueiro, tropeiro e construtor de estradas antes de se enveredar na área de casinos. Pode até parecer história de filme, mas foi após ganhar uma fortuna em um jogo de cartas no Cassino da Urca que o mineiro decidiu comprar o seu primeiro casino.
Cassino da Urca – Primeiro casino de Joaquim Rolla
O Cassino da Urca era um casino como outro qualquer até o dia em que foi comprado pelo visionário Joaquim Rolla no ano seguinte em que ganhou uma bolada num jogo de cartas no local. O casino era localizado no bairro da Urca, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.
Na época em que comprou o Cassino da Urca – ano de 1933 –, Joaquim Rolla tinha um pouco mais de trinta anos. Para fazer frente ao Cassino Atlântico, inaugurado em 1935, Joaquim Rolla investiu em shows e espetáculos. O Cassino da Urca também deve a sua fama à Agência Difusora de Anúncios, uma agência criada pelo próprio empresário para promover o casino e o bairro da Urca nos jornais da cidade.
O Cassino da Urca, que funcionou durante 13 anos, foi responsável também por lançar celebridades como Carmem Miranda e Grande Otelo. O local onde antes funcionava o casino cedeu o lugar para a emissora TV Tupi, que já não funciona mais, e hoje é ocupado por uma escola de design.
Cassino de Icaraí – Niterói, Rio de Janeiro
O Cassino de Icaraí era localizado em Niterói, cidade pertencente ao estado do Rio de Janeiro. Primeiramente, ele ficava dentro de um palacete de estilo art decó construído em 1916 pelo arquiteto Eugen Urban.
Porém, quando foi comprado por Joaquim Rolla em 1939, o palacete foi demolido e o Cassino de Icaraí instalou-se no atual prédio da reitoria da UFF (Universidade Federal Fluminense). O Cassino da Urca oferecia inclusive passeios de barca para os seus clientes mais generosos visitarem o Cassino de Icaraí, no qual vislumbravam a bela Baía de Guanabara.
Os clientes do Cassino de Icaraí, no entanto, não eram niteroienses. A maioria dos clientes eram uruguaios, argentinos e cariocas bem endinheirados. Aqueles que não tinham dinheiro nem chegavam perto da porta do casino.
Cassino da Urca – Poços de Caldas, Minas Gerais
Como podemos intuir pelo nome, este casino de Poços de Caldas, em Minas Gerais, tratou-se de uma réplica do célebre Cassino da Urca. Além deste casino de Joaquim Rolla, a cidade mineira Poços de Caldas também tinha outras casas de jogos, o que lhe garantiu o título de Las Vegas Brasileira por consequência do frenesi que causava na época com os seus casinos.
O Cassino da Urca de Poços de Caldas era simples se comparados aos outros casinos de Joaquim Rolla. Ele foi construído em um tempo recorde (seis meses) pelos engenheiros Richter e Lofuto e inaugurado em 31 de dezembro de 1942. Hoje, o casino é um importe centro cultural da cidade.
Hotel-Cassino Quitandinha – Petrópolis, Rio de Janeiro
O empresário Joaquim Rolla, que havia se consolidado na época como o proprietário da maior rede de casinos da América Latina, não obteve a aprovação do exército para a construção do Hotel-Cassino Quitandinha na Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Diante deste impasse, ele resolveu subir a serra de Petrópolis para construir o que ele planejava como o maior casino da América Latina.
Inaugurado em 1944, o casino funcionou por menos de dois anos, mas presenciou acontecimentos importantes, como a assinatura do tratado que determinou a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.
Porém, Joaquim Rolla não era apenas um empresário, mas um visionário que sempre tinha cartas dentro da manga. Assim, ele negociou com o governo um contrato que lhe assegurava a indenização de 120 mil contos de réis no caso de o jogo de azar ser proibido em território nacional. Hoje em dia, ainda é possível fazer visitar as salas de jogo que ocupavam o imponente hotel-casino.
Grande Hotel de Araxá – Araxá, Minas Gerais
A construção do Grande Hotel de Araxá iniciou-se em 1938 e a sua inauguração ocorreu em 1944, pelo então presidente Getúlio Vargas. Todos os jardins e o projeto paisagístico foram criados pelo famoso pintor e paisagista Burle Marx, enquanto sua arquitetura é neoclássica.
O esplendoroso Grande Hotel de Araxá ainda abrigava as Termas de Araxá, que é uma atração turística até os dias de hoje devido aos efeitos terapêuticos das fontes radioativa e sulfurosa, e o Cassino de Araxá, que é mais um empreendimento de Joaquim Rolla. O casino, no entanto, ficou em funcionamento por apenas um ano.
Cassino da Pampulha – Último casino de Joaquim Rolla
Juscelino Kubitscheck, que na época era prefeito da capital mineira, resolveu investir em um conjunto arquitetônico em Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer entre 1942 e 1944, o qual incluiria um casino de Joaquim Rolla.
Inaugurado em 1945, o primeiro casino de Pampulha passou a atrair jogadores de todo o Brasil, transformando a vida noturna em Belo Horizonte. Este casino com arquitetura modernista e com um restaurante badaladíssimo ficou aberto por apenas um ano devido à proibição dos jogos no Brasil. Hoje em dia, no lugar do casino, há o Museu de Arte Moderna de Pampulha, o que é um dos cartões-postais de Belo Horizonte.
E com a proibição dos casinos em 1946...
Joaquim Rolla foi o empresário mais prejudicado com a lei que proibiu os casinos em 1946, pois firmou um acordo com o governo brasileiro onde assumiria todas as indenizações trabalhistas dos trabalhadores de seus casinos caso o jogo de azar fosse proibido no Brasil.
Mas o magnata dos casinos do Brasil felizmente havia feito investimentos em outros setores. Alguns de seus outros empreendimentos foram o Edifício JK, em Minas Gerais, o Banco Mercantil do Brasil e o Pavilhão de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, que hoje é conhecido como Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. Assim, o ex-tropeiro passou o final de seus dias tendo uma vida confortável.
Joaquim Rolla faleceu com 72 anos de forma tão inusitada quanto o início de sua trajetória como o magnata dos casinos do Brasil. Após uma partida de peteca sob o sol forte das praias cariocas, Joaquim Rolla deu os seus últimos suspiros em seu apartamento em Ipanema, onde sofreu um infarto fulminante.
Para saber mais detalhes da vida de Joaquim Rolla, recomendamos o livro O Rei da Roleta, escrito pelo seu sobrinho-bisneto João Perdigão e pelo empresário Euler Corradi. Caso queira conhecer casinos em português em atividade hoje em dia, clique aqui.
Depois de ler este artigo sobre a lenda Joaquim Rolla e o breve mas poderoso império de casinos que ergueu no Brasil, uma pergunta se impõe: Porque é que o Brasil não revê a proibição dos jogos de azar? Não faz sentido nos dias que correm que um país como o Brasil não esteja inserido no circuito de casinos mundial!